quarta-feira, setembro 27, 2006
Viver em pecado
(Danuza Leão - Revista Claudia - Edição Julho 2006)
"Será que alguém conhece alguém de verdade? Nunca aconteceu de morrer uma pessoa de sua família e começarem a rolar - à boca pequeníssima - uma história que você jamais imaginou, nem em sonhos? Amores secretos, traições, heranças mal-resolvidas - e sexo, claro. Aliás, nem é preciso esperar que a pessoa morra. Se tiver uma tia bem indiscreta, daquelas consideradas loucas pela família - e quem não tem uma tia assim? -, vai saber de histórias que nunca imaginou que existissem, a não ser na cabeça de Nelson Rodrigues. Quais são as pessoas mais próximas a você? Teoricamente, seus pais e seus filhos. E você acha que sabe como eles são, as coisas que já fizeram ou que são capazes de fazer? Se respondeu sim, sem hesitar, cuidado: está passando o maior recibo de ingênuo, e tudo indica que pode ser enrolado a qualquer momento, por qualquer um. Aquela senhora tão distinta e aquele senhor tão considerado: não dá para acreditar que tenham experimentado os desejos mais violentos por outros/outras que não o próprio cônjuge. E mais: já imaginou que eles, mesmo com a cabeça branca e tão sensatos, já fizeram loucuras e transaram com tanta paixão quanto todas as pessoas do mundo? Você, por exemplo? Pense um pouco: será que seus pais têm uma vaga idéia do que já foi capaz de aprontar? E acha que eles são diferentes? Por quê? No mínimo, por uma questão de DNA, vocês têm alguma coisa em comum. Mas é difícil para um pai admitir a sexualidade dos filhos; tanto quanto para um filho admitir a sexualidade dos pais. No fundo, todos gostaríamos que eles - nossos pais e nosso filhos - apreciassem música clássica e se unissem a pessoas de sentimentos nobres, com quem tivessem filhos bonitos e inteligentes, de preferência como a Virgem Maria: sem sexo. É claro que somos modernos e esclarecidos, vivemos a época da pílula e da liberação sexual, tivemos a sorte de ser da geração pré-aids - e aliás aproveitamos -, mas em relação a nossos pais continuamos tão caretas quanto se vivêssemos no século retrasado. E em relação a nossos filhos também. Bem, agora que ficou claro que não conhecemos nem nossos pais nem nossos filhos, responda: e você, se conhece perfeitamente? Quando deita a cabeça no travesseiro tem a coragem de pensar - só pensar - em seus desejos mais secretos? Ou se enrola e toma um Lexotan para evitar esse tipo de pensamento? Eles são tão perigosos que podem ser pecaminosos; quem não se lembra do tempo em que era criança e se ajoelhava para confessar aqueles grandes pecados de quando se tem 10 anos? Sempre surgia aquele inevitável "pequei por pensamentos", que nos acompanha pela vida inteira. Ah, a culpa pelos maus pensamentos; e que maus pensamentos são esses? Ter desejado a mulher - ou homem - do próximo? E desejar um homem que não tem dono, pode? E quem é que está assim tão solto na vida para que se possa desejar sem pecar? Ah, o tal do pecado."
É... A vida não é tão fácil como a gente imagina. Além de termos que nos preocupar com o que fazemos, também temos que nos preocupar com o que pensamos! Deve ser por isso que psiquiatras e psicólogos estão enriquecendo...
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2 comentários:
Afff....
se pensamentos fossem públicos eu já tinha era tomado nos devidos canais competentes!!!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ai, ai...
ainda bem que pra sonhas não paga!
HOHOHOHOHOHOHOHO.
MUITO bom esse texto, GOSTEI! :)
se alguém pudesse ler meus pensamentos eu estava lascada.
ABAFA! :X
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